quarta-feira, 12 de novembro de 2008
MEMORIA
Ha 250 anos atrás, eu percorria um caminho batido em mato raso do templo onde servia, à minha casa de adobe - ia e vinha - não todo o dia, mas às vezes....
O Elefante é tido como animal de grande memória. Acho que ele vive uns 70 anos, por aí, pois é uma imensa massa de carne e naturalmente, dificil de manter.
Na adolescencia, eu gostava muito de ir para a casa de campo de meu padrinho Gaspar, em Barão de Javary, caminho de Miguel Pereira.
Quando estávamos lá, comíamos de pensão de uma senhora que morava em Governador Portela.
Certa ocasião, tínhamos um compromisso em Miguel Pereira e como demorava a refeição, eu me comprometi em ir buscá-la.
A ida à Governador Portela, foi sem problemas - na volta, é que a coisa ficou esquisita.
Exatamente no meio da estrada que ligava Javary à Portela, subiu do lago Itamaracá, um bando de capivaras. As capivaras que vejo aqui no Rio de Janeiro e que habitam as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, são pequenas, mas, os bichos que pularam do baixio do Lago para a estrada, chegavam até minha cintura - eu tenho 1,51ms. Parei na Estrada com as vasilhas de comida na mão, me perguntando: - "O que fazer?"
Mas, não sei porque, achei que não iam me fazer nada e resoluta, passei pelo meio do grupo... nada aconteceu e cheguei "sã e salva" em Javary.
Dizem que o elefante tem excelente memória e imagino o mundo que resta em suas recordações... - isto, porque estou observando um Sol indeciso que faz umas manchas de luz no chão de cimento em volta da piscina, e logo depois, as nuvens escurecem o jardim de novo. Penso no meu caminho do Templo à casa, da casa ao Templo...a estrada que nunca esqueci!
A vida que levei para o Espaço, ficava nesse trecho de caminho: a ansiedade para o que poderia me aguardar no templo, com os sacerdotes me ensinando a cítara, a batida dos pés ao som do tambor, o sânscrito das preces e dos mantras - e, a ansiedade para abraçar minha mãe e os sobrinhos no conjunto pobre das casas brancas de adobe...
Se um bando de elefantes - Yanai - ali, no Sul da India, atravessasse o caminho, saindo da mata para o deserto, me surpreendesse, ficava imaginando o que levavam eles de memoria nessas travessias...
clarisse
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