quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Selvagem


Eu tive um primo, Carlos Abilio Reis, que sobre mim,
dizia:
- Esta menina é selvagem...

De minha ultima vida na Terra, o que mais ficou gravado
"na memória", foi a estrada que eu trilhava ao entardecer,
do Templo à minha casa.
Levando o irmão menor pela mão, era corajoso seguir
aquele caminho selvagem; os tigres são raros no Sul da
India, pois os veados, a comida preferida desse felino,
também são raros pois apesar de existir a "jungle", a
relva é escassa no solo seco. Eu penetrei na "jungle"
pelo lado e acima do Templo - mas o chão não é emara-
nhado como os das florestas braileiras.

Nós temos uma maneira de viver durante o dia e à noite.
Mas, os animais "mudam" tanto de dia como de noite.
Uma vez fui na casa de um biólogo na Tijuca, Rio, e vi
numa jaula uma jaguatirica, onça pequena: fiz-lhe
carinhos e ela parecia um gatinho.
Entardecendo, fui me despedir da oncinha - e voltei ao
quintal.
Ao me aproximar da jaula, a jaguatirica se enfureceu e
se atirava sobre as paredes enteladas para me atacar.
Eu jamais imaginara tamanha furia num pequeno
animal selvagem.
A nossa selvageria é enfrentar o mundo com a civilidade
da educação.
Mas a Noite e o Dia para nós, são os periodos de encontros
e desencontros com todos os aspectos da Vida.
A Existencia é obscura e clara, hipocrita e corajosamente
franca e verdadeira.
Não existem estradas para as Almas - só uma palavra:
econtro.
Poderia eu segurar a alma da jaguatirica e tentar apresenta-la
aos Devas.
Sei que só restariam seus olhos dourados, selvagens e
preciosos como dois topázios - pois a Existencia é formada
por várias Minas de Tesouros.

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