terça-feira, 31 de julho de 2007

UMA VIA QUE NÃO PUDE PERCORRER

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Fazem vinte e dois anos.
Um alemão de origem grega, fora expulso do meu país,
pelo crime de receptação de objetos sem origem
identificada.
E ele e a mulher, foram para a Alemanha.

Em Frankfurt, minha amiga Betty e eu resolvemos fazer-lhes
uma visita.
No adorável Bairro que tem ruas com nomes de autores
clássicos da Música, encontramos sua casa. Era no
primeiro andar de um edificio sem elevador.

Subimos grande escadaria de madeira e fomos muito bem
recebidas pela mulher dele, uma vez que, abrindo uma
loja de antiguidades, ele fora assaltado com violenta
pancada na cabeça, que lhe atingira o cérebro - estava
quase inutilizado, mal conseguindo se mexer numa cadeira
de rodas.

É interessante assinalar aqui o recurso que as familias
de classe média européia arranjaram para ter suas casas
atapetadas com tapetes orientais: compram pequenos tapetes quando lhes sobre um dinheirinho por mes. E os
tapetinhos vão aos poucos cobrindo suas salas, ficando
com a extensão dos grandes. Estava assim a casa deles,
mais... os lindíssimos objetos que ficaram da loja fechada.
Muitos relógicos ladeados por estátuas de pássaros em
louça, era o que mais se via. Mas, de repente, eu, admiradora da Russia Imperial, tive nas mãos a cigarreira
de ouro de Nicolau II, com suas iniciais em brilhante,
colocada pela nossa amiga moradora na Alemanha.
Segurei aquela cigarreira com o maior amor e carinho.
Desejei ficar com ela um pouquinho, para tendo-a entre as
mãos, navegar sensitivamente pelas vias dos sentimentos
de Nicolau II - a minha sensibilidade permitiria isso, mas
não me sentí a vontade, temendo que o tempo que retivesse
o objeto, poderia levantar suspeitas de que estaria ensaiando
rete-lo para mim...
E foi uma via maravilhosa, lindissima, que deixei de percorrer
entre o Céu e a Terra...

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