quinta-feira, 12 de julho de 2007


A BONECA VENEZIANA


Ha muito que a casa do Comendador estava vazia.
Da familia que ali ficara residindo para olhar por
ela, só restava o casal, ja idoso, os pais
solitarios, dos filhos que se espalharam pela
Italia.

Veneza bela e saudosa,
suspirava por seus filhos, seus habitantes,
aqueles a quem os gondoleiros iam e vinham
buscar em suas gondolas.

No entanto,
Veneza não estava morta; numa sala da casa de
quatro andares, estava Ignês, a boneca.
Ignez era bela e pesada: sua roupa de azul
desbotado, seda manchada, rendas escurecidas
pelo mofo, fitas amarronzadas pela maresia
invisivel, Ignez, que era do tamanho de uma
menina de quatro anos, tinha cabelos de seda
dourada e olhos do vidro azul mais precioso de
Murano.

Seus labios entreabertos, deixando ver pequenos
dentes em marfim, sorriam constantemente para
a visita do Principe que morrera em duelo na
praça de São Marcos.
O principe não encontrara Céu nem Terra, com
seu espirito que vagava sem perdão nem recolhi-
mento, sem ter do que chorar nem se lamentar,
mas encontrara Ignêz para quem sorria, apro-
veitando-se dela para ter companhia quando
orasse nas badaladas do sino das seis horas
na Catedral... as Aves Marias.
clarisse

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