sábado, 28 de julho de 2007
NA CHINA, ALGUMAS AVES NÃO VOLTAM
Ele estava esquecido na casa grande e sombria.
No quarto dele, de Li Po (Afonso Lyrio), um quarto
estreito e alto, com uma cama, uma comoda e um
armario, eu perguntei, olhando um Buda de porce-
lana japonês:
- Vovô, o que é o Buda?
- É um Espirito, um grande Espirito.
O que mais aquele chines esquecido de todos, poderia
responder à neta de sete anos, criada no Catolicismo?
Da China, ele não tinha nada.
Somente um pequeno Buda japonês.
Nunca lhe deram oportunidade de ter em seu quarto
um altar budista - ele, que era budista chan.
A única coisa naquela casa sombria, em que a China
nunca era lembrada, era um jornal velho, escrito em
chinês, que Afonso Lyrio lia toda a noite após o jantar,
em voz alta - para não esquecer a língua nem a escrita.
Após a morte dele aos sessenta e poucos anos, minha
avó casou outra vez com um antigo parente, desta vez
espanhol.
Foi então que eu soube que havia outra coisa ali, na casa
sombria: ela me deu um quadrinho com um bordado
chinês, protegido por vidro.
- Leva! Foi bordado por suas tias-avós, as irmãs do seu
avô, quando ele deixou a China.
O bordado era um lago com vários patos voltando do
céu e aterrissando às suas margens - uns - outros,
ainda mergulhando do espasso para as águas calmas
entre árvores e flores.
Um dia, também, a avó morreu.
Meu amigo Rogel e eu, fomos lá, e apanhamos alguns
objetos, deixando para trás o velho espanhol, que se
levantaria após nossa partida e fecharia com estron-
do de ferro antigo, o velho portão daquela casa sombria.
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