quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
AMANTE DAS SOMBRAS
AMANTE DAS SOMBRAS
Eu estava no Egito, na única excursão que fiz em minha vida: todas as outras viagens foram a minha custa, as vezes até pagando uma companhia.
Eram tres horas da tarde: o calor, o vento do deserto, meu rosto cheio de areia do deserto.
A tumba, iria abrir às 15:00hs
Eu estava numa rampa, com pessoas de várias nacionalidades, quando ouvi:
- Brasil!
Eu estava numa excursão, mas, de repente, me vi só - absolutamente só. E só, desci uma escada com corrimão de ferro.
Desci, e me encontrei só, numa espécie de camarote, de onde eu via uma múmia com máscara de ouro, um pouco distante de mim, num belo sarcófago.
Como desejei, que a alma daquela múmia, me abraçasse! Porque, misteriosamente, eu estava coberta pelas minhas lágrimas... A poeira do deserto com o vento, em meu rosto,
virou uma lama...
Eu estendia a mão, mas não alcançava o caixão com o corpo, e aquele corpo era metade da tarde que caía sobre o deserto...
E como metade da tarde, eu queria abraça-lo!
Me dei conta que as pessoas na rampa, em cima, aguardavam sua vez de descer. Enlutada, subi a rampa ao lado e chegando em cima, não vi ninguém da excursão, e até hoje, não sei como cheguei ao hotel.
Eu fiz uma amiga na excursão, Lourdes. E mal chegando ao Brasil, Lourdes viajou para os USA.
Na volta, Lourdes estava tão engasgada, que mal podia falar... dizia que tinha estado numa Ordem Esotérica e lá mostraram a ela uma coisa que ela estava ansiosa para me mostrar. Ela ficou tão excitada, que não me esperou ir à sua casa e mandou "a tal coisa" pelo correio. Ao abrir o envelope, fiquei estarrecida! Era uma jovem sentada, com roupa egipcia, e o rosto... o rosto era o meu rosto quando tinha uns dezoito anos! Liguei para ela para dizer que tinha recebido o que me mandara, mas não tive coragem de falar sobre a semelhança! Mas Lourdes, no telefone, insistia:
- Diga, diga, o que você está vendo!
Por fim, ela disse:
- É você, não é?
- Sim, sou eu... mas como você notou isso, se me conheceu com cinquenta anos?
Aí, peguei minha carteira de identidade que tirara com 18 anos, fiz um xerox da carteira,
recortei o rosto, fiz um xerox da gravura que ela me enviara, colei o rosto sobre o outro rosto e tornei a mandar para ela pelo correio.
Ao receber meu envelope, Lourdes me telefonou, dizendo:
- É identico!
A jovem da gravura, tinha sido esposa do homem que hoje era uma múmia.
O deserto é muito grande para abrigar uma saudade!
Não se enrola o tempo, nem se pode arquiva-lo.
Em duas visitas que fiz à Lourdes, vimos quase materialisados, o que foi meu marido e o pai dele, juntos a um sofá na sala de Lourdes.
Em tres anos e meio que morei num apartamento em Copacabana, eu vi as almas dos dois, pai e filho, uma vez mais. Ainda os olhava quando ouvi o telefone: era Lourdes, dizendo: - Estiveram aqui!
- Eu sei, respondi, aqui também, só lamento não ter sido eu a primeira a ligar para você!
clarisse
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