sábado, 5 de abril de 2008


OVO ESCALDADO E O FANTASMA

O corpo estava diante da panela,
enquanto a água fervia para escal-
dar um ovo.
Seu fantasma, repelido pela fumaça
que saia da panela, olhava a vida
com quase asco:
- tinha repulsa por aquela casa,
não gostava do cheiro das fervuras.
Era um fantasma vibrátil, mas tinha tal
repulsa pela vida familiar e seus costu-
mes que seu raciocinio de fantasma
era despido de identificações.
Vagando na alma de tudo, onde a filoso-
fia era outra, a opinião e o conceito
das coisas eram livres como a gosma
deixada por um inseto numa planta;
nada tinha a ver com os habitos humanos.
O fantasma era livre - ele jamais
fora contaminado - por isso conservara
sua integridade de observação, como ao
ver o ovo escaldado ser comido pelo
corpo que o arrastara àquele infortunio,
ele submergiu num Oceano que envolve
a encarnação e se deixou "morrer outra
vez".

Nenhum comentário: