terça-feira, 26 de junho de 2007
SELEÇÕES 1968
Um exemplar de Seleções do R. Digest, ano 1968, con-
tinha uma reportagem sobre Herculano, a cidade so-
terrada em 76 D.C. pelo vulcão Vesuvio.
Meu pai me disse uma vez:
- Por que é que voce tem atração por coisas antigas?
Isto não é normal...
Para mim amar "coisas antigas", é uma arte - como se
eu fosse compositora em violão ou piano.
Eu viajava em imaginação pelas antiguidades, sonhando
com o que pudera ter acontecido ali, ha muito anos...
O arqueólogo, acho eu, vive mesmo um pouco fora da
realidade atual: ele tem a possibilidade de descortinar
uma existencia passada.
Seria como, se do Espaço o arqueólogo revisse sua exis-
tencia terrestre e corrigisse como refazendo a pintura
de um quadro, todos os lances mal feitos durante sua
existencia ali.
De qualquer maneira, não é como o vinho, mas os arqueó-
logos fogem da existencia atual - ou vivem fora dela.
Eu adorei andar em imaginação pelas ruas de Herculano,
naquela reportagem.
A cidade ali descrita, tomava um pouco a caracteristica
grega, tornando o ambiente, de uma vida com o refina-
mento grego, misturado à elite romana.
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Uns quinze anos depois, acompanhada por um camera
de Tv, eu percorria Herculano.
Uma das paisagens mais belas, é a do Vulcão Vesuvio
como fundo ao longe da cidade.
Ao descer a passarela que conduz à cidade embaixo,
ainda em escavações, parecia que eu não suportaria a
emoção do sonho realizado.
A cidade, por sua aparencia distinta, parece mesmo um
trecho grego.
Misturando a cor escura ao vermelho típico da cidade,
dá-nos impressão de estarmos sempre acompanhados
pelas almas dos que ali morreram na catástrofe.
Porque é belo e triste.
Mas que deliciosa tristeza!
O calor era intenso e o vento levantava as ainda cinzas
do vulcão.
Foi por isso que eu curvei minha cabeça sob a bica de
bronze de uma das fontes que ficam nas esquinas das
ruas, e molhei meu cabelo e o rosto, pensando, quantos
não fizeram ali, naquela fonte, o mesmo gesto que eu!
Emoção maior, foi eu ter dado com uma das casas des-
critas no Seleções:
- ali estava ela, altíssima em pé direito, com colunas orna-
mentais a volta do teto, uma quadrado aberto no meio do
telhado que deixaria passar a água da chuva para uma
rasa piscina em meio ao atrium - o "pluvium".
Eu entrei no colhedor de água da chuva, sentei em sua
pouco alta borda, e erguendo o rosto para a claridade do
teto, fui fotografada pelo camera, numa das fotos mais
amadas que tenho!
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