Hinduismo
O hinduismo é uma das religiões mais antigas do mundo que chegou aos nossos dias. O que o diferencia de outras religiões é por não haver elaborado um credo sintético ao que seus adeptos possam se referir de forma concreta. As normas que respeitam os hindus se conhecem de maneira geral e se acham dispersas em inumeráveis obras de conteúdo filosófico. Não existe um único livro de referência.
As noções que compartilham os hindus sobre o universo e seu funcionamento são as seguintes:
Os "Vedas" são escrituras sagradas, as mais antigas do mundo. Esses hinos são a palavra divina e a base do hinduismo.
Existe um Ser Supremo imanente e transcendente, que é criador e criação.
O universo está sujeito a ciclos infinitos de criação, preservação e dissolução.
Todo o universo está sujeito ao "karma", a lei de causa e efeito, mediante a qual cada ser individual cria seu próprio destino através de seu pensamento, suas palavras e suas ações.
As almas encarnam em diferentes nascimentos até que todos os seres cumpram seu "karma" e tenham alcançado o conhecimento espiritual e a libertação do ciclo de existências.
Os seres divinos existem em mundos que não conhecemos e podemos entrar em contato com eles mediante adoração em templos, nos rituais, nos sacramentos e na devoção pessoal.
Para e evolução espiritual são essenciais as diretrizes de um mestre, assim como um disciplina pessoal, boa conduta, purificação, ritos e meditação.
Toda a vida em todas as formas é sagrada e deve ser respeitada e reverenciada.
Nenhuma religião é a única verdadeira. Todas servem para mostrar o caminho e todas merecem respeito e reverência.
OS VEDAS
Os Vedas são as escrituras sagradas hindús, reveladas pelo deus Brahma. É uma voz sânscrita que significa literalmente "a ciência". São textos da fase literária mais antiga de toda a literatura indo-européia, de fundo marcadamente religiosos e que abarca cerca de dois milênios (2500-500 a.C.). Consta de uma hinologia sagrada de elevada inspiração poética que mais tarde se complementa com obras de exegesis sobre a interpretação da palavra revelada e a prática do culto.
O "Rigveda" (a ciência dos versos) é a exposição do mais antigo pensamento religioso indiano, cuja concepção fundamental é um politeísmo naturalista. É o mais antigo monumento da literatura índia que foi conservado. Se trata de uma coleção ritual com caráter litúrgico simbólico, com mais de mil hinos que se cantam durante os sacrifícios ao panteão de deuses védicos. Neles aparece já maduro o denominado pensamento vedântico. é muito rico em conteúdo mitológico.
O "Atharvaveda (ciência das fórmulas mágicas) pertence a estratos populares indígenas e levam consigo um elemento de superstição. É um conjunto de sentenças em que prevalece a magia. Pode considerar-se o documento mais antigo da medicina hindu, pois são numerosos os conjuros contra as enfermidades. Se encontram ainda, poemas mágicos sobre a eleição do rei, hinos cosmogônicos, etc.
O "Sâmaveda" (ciência das melodias) é um manual para uso do culto e o canto litúrgico, uma recompilação de estrofes destinadas ao canto, composta especialmente para fins ritualísticos. Constitui o manual do sacerdote durante o sacrifício. É o tratado de que surge a música clássica hindu.
O "Yajurveda" (ciência das invocações) é um texto composto para a prática do sacrifício que contém súplicas, fórmulas sagradas, invocações e conjuros. É um modelo de liturgia.
Tampouco faltam hinos de caráter filosófico e cosmogônico. Uma seção inteira está consagrada ao culto dos mortos. São freqüentes as adivinhações, os enigmas e longas enumerações de nomes com as quais se invoca a uma divindade.
Os Vedas são considerados a fonte do "dharma" (religião, moralidade, retidão e boa conduta) e, um dos principais fundamentos do hinduismo.
Deve-se destacar a forma como chegou até nós, pois é um princípio que se transmitiu oralmente, passando de pais para filhos e foram criando-se linhagens de famílias especializadas neles.
Desde de criança. o filho do sacerdote começa a memorizar os hinos e ao chegar a idade adulta deve conhecê-los por completo. Para assegurar a fidelidade ao texto, são realizados complicados exercícios meno-técnicos como aprender o texto, em frases salteadas, etc.
DEUSES VÉDICOS
Os ários levaram à índia todo seu panteão de deuses da natureza e esses foram assimilados pelas culturas aborígenes e se fundiram aos deuses locais, enquanto foram mais tarde desprezados por novos conceitos e, na atualidade, seu culto foi relegado em grande parte pelo de Shiva e Vishnu. No entanto, seguem tendo vigência, como símbolos eternos.
Entre as principais deidades os panteão védico se acham as seguintes:
PRITHVÎ, a Deusa da Terra. É esposa de Dyaus e mãe dos homens. É símbolo de paciência e boa conduta.
ÂDITI, a Mãe dos Deuses. Simboliza o espaço celeste, o infinito. Se associa com a inteligência. É ela que abençoa as pessoas e o gado e um dos símbolos da natureza bondosa.
AGNI, o deus do Fogo, do lar e da família. É um veloz mensageiro que viaja entre o céu e a terra, o responsável por manter a comunicação entre deuses e homens. Encarregado de fazer chegar as oferendas de seus adoradores.
BRIHASPATI, a divindade védica do Sacrifício. É a divinização do sacerdote e Senhor da Oração. Personifica a religião e a devoção e protege os homens piedosos, especialmente dos ataques de impío.
INDRA, o Rei dos deuses. É o deus do céu e das estações. Simboliza a força. Impera sobre as nuvens carregadas de chuva e raios. É o exterminador dos demônios e lhe é atribuída uma força imensa. Se mostra bom e liberal com seus fiéis, multiplica seus gados e lhes ajudam em tempo de guerra.
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CHANDRA, o deus da Lua. É o mestre dos homens piedosos e a fonte da vida. Personificou a Lua e depósito de "soma" o néctar dos deuses.
SÛRYA, o deus do Sol. Com duas de suas mãos benze a seus adoradores. Fertiliza a terra e destrói os demônio com seu fulgor.
MITRA, o deus da amizade dos contratos, É um deus tranqüilizador, bondoso, protetor das relações e dos atos honrados e regulares.
SOMA, deus das plantas e da vegetação, nascido das águas ou da chuva. Se acha intimamente ligado aos processos de procriação, crescimento e transformação, tanto das plantas como dos animais.
RUDRA, o deus védico da tempestade. Originalmente era o protetor dos rebanhos, mas depois se associou com divindades atmosféricas e finalmente se identificou com o deus aborígene Shiva durante o período pós-védico. Personifica os diversos ventos.
PRAJÂPATI, um deus criador assimilado logo na personalidade de Brahma. É uma abstração sem personalidade, a essência divina. Era considerado o homem primordial ou ser cósmico, "purusha", que existia antes da formação do universo. ´É o criador de deuses, homens e demônios, e de todos os mundo e tudo que esses incluem.
PÛSHANA, um deus védico, divindade do crescimento e da prosperidade. É o deus do gado. Se põe em relação à todos os seres humanos, conserta os matrimônios, assegura o alimento, conduz os viajantes e ajuda a encontrar objetos perdidos.
VÂYU, o deus do vento, que simboliza o sopro cósmico.
VARUNA, o deus das águas, das leis cósmicas e morais. Controla os elementos do tempo: chuva, tormentas, rios e águas. é um deus de caráter moral, castigador do malvado e protetor do necessitado. É o guardião do rito e da lei cósmica, aquele que sempre está tento as transgressões humanas.
YAMA, o deus da morte e soberano dos infernos. Também se denomina Kâla (o tempo). É identificado com Dharma, a personificação da justiça.
KUVERA, o deus das riquezas. Está associado principalmente com a terra, as montanhas e tesouros de pedras e metais preciosos do subterrâneo. É o protetor dos viajantes.
A TRINDADE HINDU
Durante a época pós-védica surge a noção de "TRIMÛRTI", voz sânscrita que significa "três formas". É a trindade hindú ou três formas do divino. É a manifestação do Absoluto para dar lugar ao mundo fenomênico. Está integrada pelos deuses Brahma, Vishnu e Shiva, que representam respectivamente as funções de criação, preservação e destruição do universo.
BRAHMA, é o deus criador do universo, a primeira pessoa da trimûrti. É o regulador do universo e a alma do mundo. Personifica a inteligência e é o mestre de todas as criaturas. É o mais antigo de todos os deuses. É pai de todos os deuses menores. Vive em Brahmaâloka, paraíso situado nos montes Himalaia. Antes de criar o mundo, Brahma estava sentado sobre uma flor de lótus, em atitude de meditação. Se traslada no espaço e no tempo sobre um cisne divino. É representado com quatro cabeças coroadas que olham os pontos cardeais e que se interpretam usualmente como a paternidade dos quatro Veda. Apararece como um homem vermelho, com quatro braços que carrega os Veda, um rosário, uma colher de sacrifícios, que representam a espiritualidade, e uma concha ou recipiente com água do sagrado rio Gangâ, o Ganges, que simboliza a prosperidade e a abundância. Aparece com a barba, que lhe dá a aparência de um ancião sábio e compasivo.
VISHNU é a segunda pessoa da trimûrti. É o princípio conservador. Simboliza a água. É o deus que conserva e protege ao universo, que encarnou e encarna na terra. Considerado o benfeitor e restaurador de tudo que existe. Aparece como jovem vestido com atributos reais. Suas dez encarnações são: Matsya, o peixe que, durante um dilúvio, salva a vida do primeiro homem da era atual; Kûrma, a tartaruga que empresta sua carapaça para que esta sirva de apoio e os outros deuses possam bater o oceano de leite com o fim de extrair o "amrita", o néctar da imortalidade; Varâha, o javali que salva a terra exterminando os demônios cujo peso fazia que se afundassem nas águas; Narasimha, o homem-leão, que destrói o demônio Hiranyakashipu; Vâmana, o anão, que arrebata o demônio Mahâbâli a terra, os céus e os mundos inferiores dos que se havia apoderado; Parashurâma, quem extermina a quase toda a casta dos guerreiros, que havia degenerado; o príncipe Râma, símbolo de dever e protagonista do Râmâyana, quem resgata a sua esposa Sîtâ e vence ao rei dos demônios; Krishna, o auriga (alma racional) do príncipe em Mahâbhârata, quem transmite aos homens a sagrada escritura de Bhagavad Gîtâ; Buddha, o iluminado, símbolo da compaixão e do entendimento; e Kalki, encarnação por vir, representada por um príncipe sobre um belo cavalo branco, que aparecerá ao final da atual etapa do mundo para castigar e premiar. Antes da criação os mundos vive sobre o oceano eterno. Habita no paraíso chamado Vaikuntha. É representado na cor azul, com tripla coroa e um diamante no peito. Tem quatro braços, portadores de seus atributos: um caracol marinho cujo som nas batalhas semeia confusão, um disco arremessador, uma clava e uma flor de lótus.
SHIVA é o princípio destruidor e a terceira pessoa da trimûrti. Simboliza a energia masculina. É a terceira emanação do Absoluto como deus destruidor e, as vezes, fertilizador. É venerado como Mestre das verdades últimas, como Senhor do Tempo e da Morte. Seu símbolo é o fogo. Aparece em tempos anteriores ao vedismo, simbolizando a atividade cósmica no sentido mais amplo, a meditação que cria com a força do pensamento e a dança que imprime o ritmo vital ao universo. Seu nome, Shiva, significa benevolente. Vive em Shivaloka, um paraíso situado no monte Kailâsa. Em seu aspecto destruidor tem um tigre ao seu lado. Se alimenta de lágrimas e fogo, vomita sangue, está armado de dentes agudíssimos, veste um colar de crânios humanos e serpentes se enrolam no seu pescoço. O Shiva fertlizador carrega entre as mãos uma serpente e uma flor de lótus. Se apresenta com quatro braços. Possui um terceiro olho na metade central da fronte , símbolo da onisciência. Em seu cabelo há uma lua crescente. Sua arma é um tridente.
Praticamente não existe na Índia o culto à Brahma. Vishu e Shiva, ao contrário, são os deuses mais queridos em todas as suas formas e manifestações. Por motivos classificatórios se estabelce culto vishnita como distinto do shivaíta. Porém, há de dizer-se que todos os mitos cosmogônicos tendem a reforçar a idéia de que não são deuses diferentes, mas sim manifestações distintas do mesmo princípio. Os templos vishnuitas incluem santuários menores para Shiva e vice-versa, sendo que em nenhum momento os deuses, nem seus partidários, entram em conflito. A devoção por uma ou outra forma da divindade não responde mais que umas preferências simbólicas ou estéticas, pois são a essência do mesmo deus.
OS MANDAMENTOS HINDUS
No hinduismo o dever religiosos, o "dharma", é um conceito pessoal e que pode variar segundo as circunstâncias. No sistema filosófico do Yoga encontramos dez "yama" (restrições) ou normas éticas e dez "niyama (obrigações) ou práticas religiosas recomendadas.
Os dez yama, que definem os códigos de conduta mediante os quais controlamos nossos instintos e cultivamos as qualidades inatas da nossa alma, são os seguintes:
1. "ahimsâ" (não violência), que consiste em não causar dano aos demais mediante pensamentos, palavras e ações;
2. "satyâ" (verdade), evitar a mentira, a falsidade e o engano em todas as suas formas;
3. "asteya" (honestidade), abster-se do roubo, da fraude e do endividamento;
4. "brahmachaârya" ( conduta divina), praticar o celibato enquanto estiver solteiro e, em vida marital, evitar as relações ilícitas;
5. "kshamâ" (perdão), evitar a intolerância, o rancor e a impaciência;
6. "dhriti" (estabilidade), vencer a indecisão, o medo, a volubilidade e a falta de perseverança;
7. "dayâ" (compaixão), eleiminar a crueldade e insensibilidade ante ao sofrimento de outros seres;
8. "ârjava (retidão), evitar todo o tipo de más ações;
9. "mitâhâra" (frugalidade), comer com moderação e evitar todo tipo de excesso que cause mal ao corpo;
10. "shaucha" (pureza) evitar as impurezas do corpo e da mente.
Os dez niyama que resumem as práticas essenciais que observamos e as virtudes e qualidades que devemos buscar são essas:
1. "hri" (arrependimento), a lamentação dos erros cometidos e o propósito de evitá-los;
2. "santosha" (contentamento), a busca da alegria e da serenidade na vida;
3. "dâna" (caridade), o ato de dar aos demais e ajudar os necessitados;
4. "âstikya" (fé), a crença firme em Deus, em deuses, e nos mestres;
5. "ishavarapûjana" (adoração), adoração à Deus mediante oferendas e meditação;
6. "siddhântashravana" (atenção religiosa), escutar, recitar e estudar textos religiosos ou de aperfeiçoamento espiritual;
7. "mati" (cognição), desenvolvimento de uma vontade e um intelecto dirigidos à temas religiosos;
8. "vrata" (voto), o cumprimento rigoroso dos votos e das práticas religiosas estabelecidas;
9. "japa" (recitação), a prática da oração e repetição das fórmulas sagradas;
10. "tapas" (penitência), a austeridade e a auto-imposição de penitências e sacrifícios.
Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO
Bibliografia consultada:
La India Mágica y Real - Enrique Gallud Jardiel
Historia de la cultura oriental - Hermann Boekhoff
An Introduction to Hinduism - Gavin Flood
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