quarta-feira, 23 de maio de 2007


O punhal

Clarisse de Oliveira

A mão que acaricia - é aberta; mas quando ela se fecha no cabo de um punhal, ela é mortal. Quando meu amigo Gerardo morreu, abriram seu armário de caça, e me mandaram escolher o que eu quisesse. Escolho cinco assobios de madeira que imitam os cantos dos pássaros, e um grande e estreito punhal, o cabo trabalhado em prata e pedra preciosa brasileira. Eu percebi muito tempo depois, que a lamina do punhal era mais pesada que o cabo e isso permitia que se eu o largasse de certa altura, ele caia fincado na madeira sem esforço.
Tive uma vida ferida, no seio de uma familia que não me compreendia. Às vezes, adolescente, eu segurava o punhal, pensando:
- Você me tiraria desta vida, mas pressinto que me acompanharás o tempo todo - companheiro agressor, mas sustentáculo onde muitas vezes o amor nos ameaça na sombra mas o segredo da Vida abre Asas em nosso Espirito.

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