quarta-feira, 30 de maio de 2007


A MULHER E A CASA POBRE

Ela era morena, bonita e pobre.

A casa, pouco mais que um mocambo, numa restinga, a beira de canais ralos de mar - o cheiro de marisia inundando as areias úmidas de restos marinhos, o vento gelado ,
frio e cortante, penetrando naquela casa cheia de
arestas do mal contato entre a taipa e a madeira podre.

Com suas sandálias de couro preto, a saia de chita, a
blusa ganha de presente da chefe de seu trabalho, os
cabelos castanhos escuros amarrados para não esvoaçarem, os olhos da cor das cascas dos mariscos,
Nadir, no entanto, era feliz quando voltava para casa.


Era o aconchego da mãe cabocla, das irmãs menores
que ajudavam na casa - acendiam o fogareiro a carvão,
limpavam o galinheiro, tiravam água do poço para lavar roupa,
limpavam os cachorros de pulgas e carrapatos - e
sorriam alegres quando a viam chegar.

Nadir não sabia - nem poderia imaginar que nas casas
ricas, as irmãs não penteavam umas as outras, não punham
óleos perfumados nos cabelos nem os puxavam
com pentes para amarrá-los ou entrança-los.

O empréstimo de roupas entre elas e os sorrisos trocados
quando a mãe acendia o cachimbo de fumo de rolo...

O principal nisso tudo, é que a pior dor, a pior punição,
a pior tragédia que os mais ricos disfarçavam, não existia
naquela casa humilde: A SOLIDÃO

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