domingo, 20 de julho de 2008
O BULE DE CHÁ E A VIDA POR EXISTIR
Ele é marron, como as velhas folhas de outono
caidas das árvores e pisadas pelas chuvas.
Não foi guardado num armário, mas ficou esquecido
sobre a mesa do centro da sala.
Sua presença em lugar que não era para ser seu,
era maior do que toda a sala vazia, sem o preenchimento
das pessoas que ali reuniam sua familia.
O bule de chá se transformou em monumento,
em símbolo dos movimentos dos corpos, das mãos
que o amparavam para verter o chá:
ele acompanhou sorrisos, enquanto vertia a bebida
quente nas xícaras - os sons das conversas e a
delicadeza das mãos que o colocavam de volta sobre
a mesa.
O Bule de Chá nunca compreendeu porque não o
retiraram de volta para lavá-lo e reenche-lo outra
vez com chá.
O silêncio enquadrou a sala como um quadro "para
sempre"
e só ele, que nem lembrança é, guardou a vida que
se fez em torno,
como palavra eterna de um futuro que se renova
quando a solidão é morte e vida ao mesmo tempo.
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