segunda-feira, 29 de junho de 2009

Espectro





O cabelo, era farto e negro.
Os seios, cheios e empinados.
A cintura fina, modelada pela dança do templo hindú.
As ancas arredondadas, fartas de carne macia.
Os tornozelos finos, os pés pesados, pelo chão que pisavam, de terra da estrada do templo à sua casa, e a volta ao templo.
As jóias, se misturavam ao suor do pescoço e do colo.
A bayadera era sedutora e sabia disso - e abusava disso - e ria disso.
Por ciumes, um dia foi abatida sobre as pedras do templo; o sangue grosso, escuro, perfumado à morte, correu por entre as pedras do chão e lá ficou.

O Espectro, se manteve no Eter, olhando com seus olhos mortiços, a superficie da Terra;
levava consigo, um recado aos gênios do Inferno, as Almas sêcas e cruéis que povoavam a Terra..
O Espectro levava recado aos Infernais, de que Ele, o Espectro, iria habitar entre eles.
Numa Lua negativa de Outubro, o Espectro renasceu na Terra - mas, também levava consigo, enrolados dentro de sua mão esquerda, as artimanhas do Inferno.
Durante muito tempo, talvez uns quinze anos da Terra, o Espectro sobreviveu, entre todas as amarguras físicas.
Tinha repulsa e atração pelo sangue, que lhe deixara escapar a Vida, uma Vida de beleza, de amor apaixonado.
Então, numa noite negra, como todas as noites, iluminada por uma lampada murcha, numa sala com pessoas que nada compreendiam da Vida nem da Morte, a presença fantasmagórica do seu amor do passado, que num ato fatídico quisera preservar só para ele a mulher por quem era apaixonado, mas, que agora, não passava de um espectro sem os atrativos humanos de quem ele conhecera, esse amor, que ela, o Espectro, deixara de recolher do Espaço, a Alma aflita, que os Arcanjos não permitiram que recolhesse, que abraçasse, veio, por intermédio dos médiuns, lhe pedir perdão.
Ela respondeu que o perdoava - e como não o iria perdoar, se agora, um trapo de gente sem beleza, sem atrativos, vagava solitária, amargurada, incompreendida, tendo conseguido sobreviver, só porque regressara ao Mundo das Almas Penadas, vivendo como ser humano, mas sobrevivendo como Espectro, para viver entre os dois mundos que são o Eter e a Terra?
Ele, o antigo amante que não reencarnara, estava como fôra,, belíssimo, olhos de um negror que só a morte que é eterna pode conservar, como iria agora olhar para o Espectro materialisado, na carne, porém, outra carne, não tão bela como a que conhecera, tentando se preservar no Espectro, para não se sentir desprezada por ele, o amante de quem ela nunca esquecera, e que só tivera até hoje, como alguém para amar.
clarisse

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