segunda-feira, 24 de março de 2008


A ESTRADA

A Estrada era de terra escura, as margens
eram em trechos lamacentas, em trechos
matagal.
A Estrada conduzia do Templo ao aglome-
rado de casas de taipa, onde indianos da
casta dos artesões, teciam cestos de palha
e panos de algodão em teares.
A Devadase tinha permissão de ir visitar
os seus no aglomerado de casas de adobe.

O tigre, apesar de não ser abundante na
região, tornava perigosa a caminhada
com o surgimento da Lua.
Tudo era possivel,`aos animais esfaimados.
As vezes, antes de um animal, um ser tão
selvagem quanto eles, surgia na estrada:
da cor do gamo, a agilidade dos saltos
dos animais em suas correrias, sua passagem
pela selva, afastando os galhos que bloquea-
vam o caminho: a silhueta bela do jovem
acostumado à vida selvagem.
A Devadase esquecia o perigo, a Lua, o
tempo que fenecia na aldeia, onde os
parentes a aguardavam - e fundia seu corpo
na carne úmida pela selva, do jovem meio
animal e homem, belo em sua juventude,
fonte de energia e prazer, que a sacerdotisa
levaria aos deuses nas chamas dos altares.

A Estrada era terra de muitas Vidas:
- caminho do Templo
- Via para a reunião da familia
- encontro para o amor

A Lua que iluminava a Estrada, viu os Anos
Vindouros desmancharem a floresta rala,
apagar o Amor que foi tapete dos encontros,
isolar o Templo - isolar o Templo de uma Vida
à outra - como duas esferas de Duas Existen-
cias - impossiveis de se coadunarem, eterna-
mente Saudade à espera da Morte, outra
Estrada agora para outra familia do Espirito.

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