domingo, 23 de dezembro de 2007


UM GNOMO EM MINHA VIDA




Eu ganhei Pinoquio no meu aniversário de sete anos de

Idade.

Era um Pinoquio lindo, porque era o Pinoquio de Disney.

Estava vestido de tirolês, com uma camisa branca e um

Chapéu de feltro vermelho com uma peninha – e suas

Calças curtas, também de feltro vermelho – seguras por

Suspensórios unidos por um peitilho da mesma lã.

Calçava sapatos de oleado preto.

Tinha luvas e meias brancas.

Gepetto, o fabricante de guignols, o velho solitário,

Podia ser um mago que tinha de viver sozinho. Sua

Solidão acalentava as almas perdidas dos elementais,

Que entre suas mãos encontravam uma compensação

Para um existir de incógnitas sem pensamento.


Quando, em um pedaço de pinho, entalhava um boneco

Menino, transmitia à essa futura criaturinha, sua

Carência de vida, o que formou no Espaço o liame

Entre homem e boneco, entre os futuros pai e filho.

Jamais se saberá o desenrolar da vida entre ambos,

Das conquistas esotéricas do mago, do despertar da

Ânsia de vida do elemental.

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O guignol não tem uma aparência agradável de se ver.

Parece que suas caras transmitem um ar de maldade

E deboche, um sorriso sardonico e irônico. Existe dor

Neles como o entalhe da madeira, dos pregos, dos

Arames.

As empregadas em minha casa, sempre diziam:

Clarisse, eu tenho um medo desse boneco...
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Minha amiga Lourdes tem um tal horror ao guignol,

Que só em mencioná-lo, provoca-se arrepios nela.

Ela me relatou um acontecimento doloroso:

Estava passeando em Angra dos Reis, quando

Visitando uma velha igreja, subiu os degraus de sua

Torre; e – horror! Quando chegou ao alto, se deparou

Com um quarto de guardados: e lá estavam eles!

Talvez usados em festas da Igreja, estavam lá, sós

infinitamente sós. Lourdes teve uma terrivel
sensação, até hoje inexplicavel para ela, que os

associa à Idade Média.

Não sobraram os meus bonecos de infância, mas ele,

Pinoquio ficou – perfeito, sem um pedacinho da massa

Quebrado. É um contra-forte meu, que me viu chorar

De muito desespero, quando a resposta do Infinito ainda

Não se fazia compreendida.

Hoje, moro numa casa de madeira – e a casa tem

Ornamentos de paus sobre as portas, janelas. Pinoquio

Está sobre uma porta na sala de jantar: lá em cima, com

Seu sorriso conformado e seu olhar de quem sabe mais

Do que aparenta.

Quando o coloquei la, lhe falei:

Você agora vai guardar a casa, ta?
Quando eu residia em outra casa, na Barra da Tijuca,

Um conhecido que foi lá, me disse:

Clarisse, sua casa é mágica... Nas paredes existem uma
Porção de espiritos que ficam observando quem aqui

Entra... para te proteger!

Um comentário:

Eu mesmo disse...

Amados, especialmente, Clarisse de Oliveira. Li toda a história de sua Avó, oq muito me comoveu. Estava a procura, à muitos dias do resgate de dados sobre Febrônio Indio do Brasil (primeiro interno do Manicomio Judiciário Heitor Carrilho), quando me deparei com a seguinte afirmação em um comentário sobre um livro: "Carrara cita como fundamentais dois fatos que foram a gota d’água para que se cumprisse o decreto de 1903. Estes seriam o assassinato de Clarice Índio do Brasil e uma fuga ocorrida entre os internos da Seção Lombroso em 1920. Daí o porquê de somente tanto tempo depois de aprovado o decreto, cerca de 17 anos, é que se inaugura o Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro". Bom, primeiro fiquei super curioso. Então queria saber se vc sabe algo a respeito da afirmção de Carraro. OU se longíquamente, vc tem algo q indique um parentesco comum entre Febronio e Clarice, ou melhor, entre febronino e o seu avô? Já q ambos tinha o memso sobrenome, foram conteporâneos, mas de posições sociais abolutamente contrárias. E só mais uma coisa, pq motivos sua avò foi morta, isso foi esclarecido?
Desde já agradeço sua atenção.
Um abraço
feletti@gmail.com